Ausência (Vinícius de Morais)
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...T
eus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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1 comentário:
Ok... costumo dizer que é difícil aguma coisa fazer-me ficar calada... bem, a este texto dedico o meu silêncio de respeito e de profunda admiração, quer por quem o escreveu, que por quem o escolheu para colocar aqui.. :-)
Não conhecia Vinícius de Morais se não de nome... e nunca tinha lido nada dele que me tocasse realmente... bem, acabou de acontecer!! :-D
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