sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)
A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,sua ilusão, sua miopia.

1 comentário:

Porcelain disse...

Ah, a miopia!! :-D e que belo é o mundo visto aos olhos de um míope 8que não seja demasiado míope)... surge esbatido, os contornos fundem-se e confundem-se como se de uma pintura inpressionista se tratasse... ah a verdade... jamais teremos acesso a ela... mas podemos aproximar-nos... mesmo dentro da nossa miopia, podemos aproximar-nos...