sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Fresta (Fernando Pessoa)

Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

1 comentário:

Porcelain disse...

Fernando Pessoa para mim é a referência das referências... tenho-o como um modelo, invejo cada centímetro de palavras suas!! :-D É um escritor extraordinário...

E precisamente porque nos seus momentos negros ele erguia a fronte, olhava o longínquo horizonte, se não deixava atemorizar pelo sol posto, em vez disso, revivia, existia, conhecia... não tinha medo da ilusão... nem de entregar o seu coração... Fernando Pessoa além de um poeta colossal... era um colossal sábio... como deve ser qualquer grande poeta... :-)